Após
um período conturbado de tarefas extra-curricualres, o blog permaneceu parado
por um tempo, mas estamos voltando a ativa novamente. Hoje terminaremos o
relato da professora Cleo. Hoje você verá um exemplo de superação. Ela nos
conta do seu retorno aos estudos, do período da faculdade e do seu início
profissional.
Para
quem ainda não leu o último post, a Cléo é uma mulher que quando criança
contraiu meningite, que a levou a perda da audição, e que graças ao apoio da
sua família conseguiu enfrentar a sua realidade e seguir na vida.
Meu dia-a-dia nesse período de
recuperação era da fonoaudióloga para a psicóloga, ambas tinham papéis
importantes em minha vida. A fonoaudióloga me auxiliava na leitura labial e a
psicóloga me ajudava a entender a minha nova realidade.
Percebi muitas vezes que a deficiência
ajudou a fortalecer esse meu novo lado, permitiu que eu me tornasse uma pessoa
mais sensível e mais próxima do outro que também era deficiente. Passei a
interessar-me mais por estes assuntos e utilizar a internet e o celular como
mecanismo de comunicação.
Decidi voltar a estudar com 22 anos. Na época não havia concluído a
5°série. Para sentir-me mais segura, sentava ao lado da professora, que me
auxiliava tirando as dúvidas. Na sala, era utilizada para comunicação a LIBRAS.
Desde que finalizei a 8º série enfiei
na cabeça que eu queria muito concluir o colegial. Me matriculei em uma escola
comum e pedia a uma colega pra me ajudar
a fazer as lições que eu não havia entendido. O mais legal foi que toda a
escola se sensibilizou e me ajudava emprestando os cadernos e me explicando o
que eu não conseguia entender. Os professores sempre foram maravilhosos e
compreensíveis.
Conheci uma moça que estava fazendo o
cursinho da Educrafo que tinha a finalidade de ajudar o aluno a ingressar na
universidade. Matriculei-me nele, e participei de algumas palestras e aulas,
mas durante o curso desisti, pois na sala não havia intérprete e não entendia o
que era ministrado nas aulas.
Prestei vestibular e logo passei em
pedagogia,quando me disseram que eu havia passado nem acreditei viajei nos céus
de alegria, pois acabei de me tornar uma universitária surda, é claro que o
medo e receio do preconceito e rejeição das pessoas tomavam conta de mim na
muitas vezes.
No primeiro dia de aula fui toda feliz
pensando como seriam as aulas, as pessoas, a reação dos professores, que por
sinal foi muito boa, é claro que alguns colegas e professores ficavam sem saber
como falar ou dirigir algumas palavras a mim, perguntavam se eu estava
entendendo o conteúdo das aulas.
Certa vez uma professora passou um
filme e depois pediu que fizéssemos um relato do filme, mas o filme na tinha
legenda e então perguntei como eu deveria fazer, ela respondeu que infelizmente
não estava preparada para lidar com alunos como eu. Aconselhou-me a filmar o
filme e a fazer a prova. Foi o pior dia da minha vida, primeiro por que ela
falou para todos ouvir, sempre me sentia a menor pessoa da sala toda vez que
apresentava uma dificuldade, essa dificuldade era vista como preguiça e não
como uma barreira, no decorrer dos estudos sofri muito, mesmo por que lutei
muito para conseguir uma bolsa de desconto e graças a Deus e com ajuda do meu pai
pude estudar embora meses depois Deus
quis levá-lo de nós.
Já formada, uma amiga e ex-professora da
escola de educação especial me arrumou um trabalho de auxiliar em um colégio -
nunca havia trabalhado em uma biblioteca. De início fiquei muito insegura, e
por sinal não foi nada fácil. A bibliotecária era uma pessoa amarga nada
compreensiva, falava que não sabia trabalhar com pessoas deficientes e por fim
quase desisti por causa dela, mas tinha uma outra auxiliar, que se identificou
muito comigo, amou minha diferença e logo quis aprender Libras, então ela ia me
ensinando tudo, como proceder, como receber os alunos e muito mais.
Tinha
dias que passávamos horas conversando e descobrindo um monte de coisas em
comum. No colégio aprendi a conviver com as pessoas e suas diferenças,
resumindo foi um grande aprendizado. Quando vi, logo já estava recebendo um
convite para me tornar auxiliar de classe, confesso que tive um pouco de medo,
mas encarei com coragem e determinação, e
foi uma excelente experiência trabalhar com
ensino infantil com crianças de 3
a 4 anos, não tive nenhuma dificuldade em me relacionar com elas em relação a
comunicação, pedia a elas sempre que falassem de frente olhando em meus olhos,
explicava-lhes que eu não ouvia. Sempre que eu dava eu ensinava Libras a elas,
mas com um certo receio das reação dos pais.
Vemos neste relato também o quão despreparada a sociedade está para dar acessibilidade às pessoas com perda de audição. É preciso que a sociedade se adapte às minorias, e não elas é quem devem se adequar a sociedade. Isto é inclusão!
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