13 de fevereiro de 2012

Conhecendo na pele a realidade da saúde para o paciente surdo


Primeiramente quero pedir desculpas pelo atraso nas postagens, mas é por um bom motivo. Desde o dia 09 de fevereiro estou na cidade de Betim participando do projeto VER-SUS. Este é uma parceria entre o Ministério da Saúde, a União Nacional dos Estudantes, o grupo UNIDA e a Federal do Rio Grande do Sul. Trata-se, basicamente, de um estágio de vivência, onde um grupo de acadêmicos de diversas áreas vivência a realidade do sistema de saúde desde a gestão até a aplicação dos sérvios.

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Hoje visitamos o Centro de Especialidades, um local de nível de atenção secundária à saúde – o paciente vão a ele somente por encaminhamento do médico da unidade básica. E procurei manter o foco das minhas observações no campo da acessibilidade, e puder comprovar na minha vivência o que li na teoria (artigos).
No nosso primeiro dia de estágio visitamos a Central Administrativa do SUS-Betim e questionei sobre o cumprimento do decreto nº5626 que obriga a presença de intérpretes nos locais de prestação de serviços à saúde. E a resposta que obtive dos gestores é que em todo o sistema SUS-Betim não havia intérpretes, mas que havia um projeto nesta área. Mas na verdade, acho que este “projeto” foi apenas uma tentativa de resposta. Sim, a saúde pública de Betim realmente é referência para o Brasil, mas o sistema que atende ao usuário sem déficit auditivo, porque o surdo continua desamparado. Felizmente, ou não, hoje pude comprovar esta realidade. Os problemas começam já na sala de espera: os pacientes eram chamados para a consulta por uma funcionária que lia em voz alta os prontuários – detalhe para o fato de que era uma sala imensa, e acredito que até mesmo quem é ouvinte e senta no fundo tem dificuldade para ouvir. Uma solução simples é a implementação de um letreiro eletrônico com número de senhas. Ao seguir a minha visitação, me deparei com duas profissionais do projeto “Cuidar”. Este é uma realização do governo municipal: os participantes ficam na sala de espera dando informações aos usuários sobre todo o serviço. Ao questionar sobre experiências com surdos uma delas me disse que, na semana passada um surdo procurou os serviços da central e elas tiveram que enviar ao Serviço Social e solicitar que retornasse com a presença de um familiar. Isto é um absurdo, pois a marcação de consulta leva um tempo e a pessoa ter que retornar posteriormente porque não tem um profissional capaz de se comunicar com ele é um ABSRUDO. Isto é saúde? No entanto, mesmo com a simplicidade que elas aparentam ter, mostraram ser conscientes da importância do profissional para acompanhar o paciente surdo. E o que me marcou na fala dela foi ela dizer que na medida do possível elas procuram compreender a comunicação não-verbal, a leitura do corpo. Por que os gestores não apresentam essa mesma visão? Por que as políticas de saúde vêem os cidadãos como todos iguais? É preciso colocar um dos princípios do SUS em prática: equidade. Atender cada um de acordo coma  sua necessidade, mas proporcionando sempre qualidade no atendimento.

É triste constatar a realidade, mas foi bom para poder ficar motivado a tentar mudá-la. 

2 comentários:

  1. Realmente o SUS precisa de muitas melhorias para cumprir os seus princípios básicos..... Mas, tenho que confessar que me senti um pouco orgulhoso do Acre na questão do atendimento. No Hospital das Clínicas o atendimento é feito por senha, a qual é acompanhada por um letreiro. Acho que nesse aspecto o SUS do Acre tem muitos pontos positivos. O pessoal daqui até diz que, aqui, o SUS é muito melhor que o sistema privado! Mas, sempre há o que melhorar!

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    1. Sério? Que exemplo de acessibilidade! É mais do que comum os surdos passarem por situações semelhantes em salas de espera. É preciso, na hora de edificar s construções, pensar na acessibilidade de todos! É o mínimo que deve ser feito!

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