9 de março de 2012

O médico e a família do paciente surdo


Fonte: Google
Já foi publicado neste blog textos sobre a importância do indivíduo, principalmente nos 3 primeiros anos de vida, aprender uma língua, devido à íntima relação desta com o desenvolvimento da subjetividade da pessoa. Entenda por subjetividade o desenvolvimento do “eu”.

 Devido ao período de amadurecimento do nosso cérebro, a partir de certo momento, a aquisição da língua torna-se mais difícil, e o desenvolvimento da linguagem será afetado. Sendo assim, é de extrema importância o diagnóstico precoce da perda auditiva, a fim de evitar um prognóstico desfavorável e a privação sensorial prolongada. Pois feito isso, será possível decidir por um processo de intervenção: optar por qual língua a criança será exposta - a língua de sinais ou a língua oral; se fará ou não uso de amplificador ou implante coclear. E neste momento é extremamente importante o papel do médico pediatra, pois ele será a primeira pessoa acompanhar o desenvolvimento do neonato e responsável por esclarecer a família deste.


Siga o "Surdez - Descobrindo um Mundo Novo" no Twitter: @mundodosilêncio 

Leia:

Siga o "Surdez - Descobrindo um Mundo Novo" no Twitter: @mundodosilêncio 


Estudos mostraram que os pediatras têm conhecimento dos prejuízos causados pela perda auditiva para o desenvolvimento social da criança; mas infelizmente, não é unanimidade a execução de procedimentos audiométricos para investigar possíveis danos na audição e além disso, percebe-se que há deficiência quanto as informações a respeito da surdez e dos métodos diagnósticos (1)(3).  “A literatura relata que a suspeita geralmente é feita no primeiro ano de vida, mas o diagnóstico é realizado apenas entre o segundo e o terceiro ano” segundo Tschiedel at AL (2). Os estudos analisados também mostram que os médicos pediatras têm algum conhecimento sobre o uso de implante coclear, ao afirmarem que as crianças podem fazer uso do mesmo nos primeiros seis meses de vida (1)(3). No entanto, não foi questionado em nenhum momento se eles possuem algum conhecimento sobre a língua de sinais e suas vantagens para o desenvolvimento da criança surda. Isto é uma pena, pois o médico terá grande influência na opinião da família, ainda mais se tratar de pessoas de baixa escolaridade.

E sobre isto, outro estudo, muito interessante, buscou analisar a concepção de mães de crianças surdas sobre a surdez dos filhos e sobre a modalidade da língua usada na comunicação com seus filhos. Em um dos depoimentos fica claro que  realmente a orientação dada à mãe faz a diferença nas suas ações para com o filho. Leia abaixo:

“Eu tenho, assim, a plena consciência, assim, tenho a plena certeza que o pai ou a mãe podem fazer a diferença na vida de um filho, seja surdo ou não (...) desde pequenininha, assim, principalmente os atendimentos para mim, assim, as minhas orientações eu acho que foi a base (...) se eu tiver orientação aqui, mas chegar em casa e não fizer nada, não vai adiantar (...) Não depende se é pai ou mãe, avó, avô, não sei. Acho que faz diferença de como que você vai lidar com a criança”(2)

E com todo o esclarecimento que lhe foi dado, percebemos que ela possui uma visão sócio-antropológica da surdez:

“Antes parecia que surdo tinhaum padrão. Sabe assim, surdo é assim, normalmente faz isso.Hoje, eu não vejo assim. Mas, assim a B é surda, como ossurdos devem ser, só que ela tem uma diferença tão grande,assim, porque ela é minha filha. Então surdo ou não, eu vou educar ela do meu jeito, entendeu? Assim, é uma pessoa,(...) dá para ser educada, compreensiva, os valores (...) sabe acho que tem que ensinar. É diferente? É diferente, eu não tenho outro filho, eu não sei como é ensinar um ouvinte, eu ensino a B, através da Língua de Sinais, falando com ela (...) Não encaro como deficiente (...) Não esqueço que ela é surda nenhum momento, sabe. Se ela está de costas, tenho o maior respeito por ela. Eu acho isso o fundamental. Assim, eu vejo a surdez só como, tem que usar outra língua com eles. Então assim, mas eu acho que é capaz de tudo, criança surda, pessoa surda”.(2)

Diferente de outras duas mães, que vê a surdez com do ponto de vista biológico (clínico-terapêutico):

“Eu acho que é uma deficiência, é, mas ela tem tudo se a criança for trabalhada, como a gente está buscando atendimento, ela está sendo atendida, ela pode vir a ser uma pessoa normal”(2)

“A surdez é um problema, mas não é porque é surdo que vai falar que é inválido. Tem como recuperar” (2).

Este estudo concluiu que se as mães tiverem uma visão mais clara sobre a surdez, informações bem consolidadas, isto influenciará na modalidade lingüística que usarão para se comunicar com os filhos. Sendo assim, se a mãe não possui uma visão segura sobre  a surdez, ela tenderá a usar as duas formas de comunicação, e não será firme nas suas decisões.

Com isto, conclui-se que, os profissionais da saúde, principalmente o médico pediatra, deve ser bem instruído sobre esta temática a fim de orientar corretamente os familiares. E iniciativas como  deste blog, também ajudam na disseminação destes conhecimentos.

REFERÊNCIA:
1- Zocoli AMF, Riechel FC, Zeigelboim BS, Marques JM. Audição: abordagem do pediatra acerca dessa temática.  Rev Bras Otorrinolaringol 2006;72(5):617-23.

2- Silva AB de P, PEREIRA MCC, Zanolli ML. Mães Ouvintes com Filhos Surdos: Concepção de Surdez e
Escolha da Modalidade de Linguagem. Psicologia: Teoria e Pesquisa Jul-Set 2007, Vol. 23 n. 3, pp. 279-286


3- Tschiedel RS, Bandin HHM, Bevilacqua MC. Diagnóstico da deficiência auditiva na infância:  uma avaliação do nível de conhecimento dos pediatras de uma cidade da região Centro-Oeste paulista.  

4- Colozza P, Anastasio ART. Screening, diagnosing and treating deafness – the knowledge and conduct of doctors serving in neonatology and/or pediatrics in a tertiary teaching hospital  Sao Paulo Med J. 2009; 127(2):61-5

Nenhum comentário:

Postar um comentário