Se você leu o post “Quebra de paradigmas [2] – A diversidade dentre os diferentes”
sabe que existem surdos sinalizados oralizados ou não e deficientes auditivos
que usam aparelho e/ou optaram pelo implante coclear e não concordam com o uso
da língua de sinais. Sendo assim, a partir de hoje, me proponho a mostrar a
você essas duas realidades diferentes, iniciando assim a série “Déficit auditivo - Diferentes realidades”,
onde postarei informações sobre a língua de sinais, sobre o implante coclear,
depoimentos e vídeos que exponham os diferentes pontos de vistas das pessoas
com perda auditiva e dos surdos.
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Hoje vou falar sobre a LÍNGUA DE SINAIS, que por ser considerada uma língua, pela lingüística, possuindo toda a complexidade e estrutura gramatical, como as línguas orais, e sendo totalmente independente destas.
Antes de abordar a língua de
sinais propriamente dita coloco para vocês as definições de língua e linguagem segundo
DIZEU e CAPORALI (2005) – sem querer dar uma aula de lingüística, até mesmo
porque não entendo desta área:
Língua:
“... sendo ao mesmo tempo, um produto social da faculdade de linguagem e um
conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para
possibilitar o exercício dessa faculdade nos indivíduos.”
Linguagem: “... por sua vez é tida como tudo que envolve significação, que tem valor semiótico, não se restringindo apenas a uma forma de comunicação...”.
Linguagem: “... por sua vez é tida como tudo que envolve significação, que tem valor semiótico, não se restringindo apenas a uma forma de comunicação...”.
A partir destas duas definições é
possível entender porque vários estudiosos defendem o aprendizado da língua de
sinais pelas crianças surdas. Podemos concluir que somente a partir do momento
em que é oferecida para a criança a oportunidade de obter uma língua – aprender
a forma convencionada de comunicação em seu meio – é que a criança adquirirá
sua linguagem, isto é, começará a compreender o mundo, a formular sua
subjetividade. Pois poderá trocar informações com as demais pessoas. E pelo
fato da criança com surdez ser capaz de aprendê-la espontaneamente, sem nenhum
tipo de treinamento, a língua de sinal é
considerada a língua natural dos surdos, possibilitando-o a compreender a
realidade a sua volta, fazer julgamentos e definir sua personalidade.
Especialistas no assunto afirmam que o aprendizado de uma segunda língua (a
língua portuguesa, por exemplo) torna-se mais fácil se o surdo já dominar a
língua de sinal.
Diferente da língua oral, a língua
de sinais utiliza um canal espaço-visual,
e não oral-auditivo. Isto é, os sinais são feitos através das mãos e a
informação é percebida por meio da visão, e o significado de cada sinal depende
da conformação da mão, da posição em que ela se encontra no espaço (o que é
chamado de ponto de articulação), da orientação da mão (se voltada pra dentro ou pra fora) e do movimento que realiza. E complementando (modificando) isto tudo, é preciso atenção à expressão
facial – que acredito ser um dos principais influenciadores na transmissão
da mensagem desejada através desta linguagem. Qual é a lógica de você sinalizar
que está triste, mas faz isso com um sorriso no rosto? Para o surdo não há nexo
e a informação fica incompleta. E ao contrário do que muitos pensam a ela não é universal – cada país possui a
sua própria língua, mesmo que ainda seus alfabetos sejam semelhantes. Veja o post Alfabeto
em Língua de Sinais pelo mundo. E você pode se perguntar o porquê de não
unificar? E eu lhe pergunto, por que não unificar as línguas orais? Porque é através da língua que expressamos nossa
identidade. Por meio dela, conseguimos identificar a nacionalidade da
pessoa, de que região ela pertence e até mesmo o seu nível de escolaridade e grupo
social de que pertence. Sendo assim, existem, por exemplo, a língua de sinais
brasileira (LIBRAS), a americana (ASL), a italiana (LIS), a britânica (BLS).
Nesta imagem, feita por Peter Stemler, retirada do artigo SIGN LANGUAGE in the Brain, dos autores Gregory Hickok, Ursula Bellugi and Edward S. Klima, ilustra o seguinte: uma mesma conformação, movimento e orientação de mão. Porém o ponto de articulação e diferente, e apenas isto já altera o significado do sinal: summer (verão), ugly (feio) e dry (seco). Estes sinais são da língua de sinais americana (ASL).
Nesta imagem, feita por Peter Stemler, retirada do artigo SIGN LANGUAGE in the Brain, dos autores Gregory Hickok, Ursula Bellugi and Edward S. Klima, ilustra o seguinte: uma mesma conformação, movimento e orientação de mão. Porém o ponto de articulação e diferente, e apenas isto já altera o significado do sinal: summer (verão), ugly (feio) e dry (seco). Estes sinais são da língua de sinais americana (ASL).
Recentemente, a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), desde o ano de 2002, com a promulgação da Lei nº 10.436 foi oficializada como a primeira língua dos surdos brasileiros. Para a comunidade surda esta foi uma grande conquista, mas esta opinião não é compartilhada por aqueles que não se vêem como parte de uma comunidade surda.
Acredito muito no conceito atual
de inclusão, no qual a sociedade é quem deve se adaptar a realidade dasminorias, no caso os surdos. Uma vez que existe um grupo que se comunica
através das mãos, esta inclusão será feita quando o resto da sociedade reconhecer
a surdez como uma diferença e respeitar essa forma de comunicação e procurar
aprendê-la.
Por fim, por experiência própria,
afirmo que a língua de sinais é muito interessante e gostosa de ser aprendida.
No entanto, ela é tão complexa quanto se eu estivesse aprendendo alemão. E como
toda segunda língua que se nos propomos aprender, é preciso praticar.
REFERÊNCIAS:
1- DIZEU LCTB, CAPORALI AS. A LÍNGUA DE SINAIS CONSTITUINDO O SURDO COMO SUJEITO. Educ.
Soc., Campinas, vol. 26, n.
91, p. 583-597, Maio/Ago. 2005
2- CHAVEIRO N, SILVA CM de O e, SILVA APM de O e, SILVA FP
da, MATOS MS da S, BORGES PR. MITOS DA LÍNGUA DE SINAIS
NA PERSPECTIVA DE DOCENTES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS. Revista Virtual de cultura surda e
diversidade. Disponível em: http://www.editora-arara-azul.com.br
O QUE ERA A LÍNGUA DE SINAIS PRA VOCÊ ANTES DE LER ESTE POST? VOCÊ ACREDITA QUE A DIFUSÃO DA LÍNGUA DE SINAIS É UMA DAS FORMAS DE FAZER A INCLUSÃO DOS SURDOS?
Ótimo post, Renato. Nunca imaginei que entender a diferença entre lingua e linguagem fosse tão útil para compreendermos a essencia de um ser. Somente com a língua pode-se formar uma linguagem, uma subjetividade. Formar aquilo que vamos ser.
ResponderExcluirExcelente texto
Cássio, também confesso que após aprender esses dois conceitos o que foi dito nas aulas do nosso curso e nos artigos que eu li começou a fazer mais sentido. Se a criança que nasce surda ou adquire a surdez antes de aprender a falar for privada da língua de sinais é como se ela fosse privada de conhecer o mundo, já que ela não será capaz de formar o seu lado subjetivo.
Excluirtenho orgulho de encontrar alguem como vc Renato Cesar, um estudante de medicina com imenso desempenho em entender seu par diferente, eu como surda e professora universitaria posso dizer que as coisas começaram a mudar, rsrsrs, isso nos faz acreditar em um novo amanha.
ResponderExcluirgrande abraço
Angelica Monteiro
Angelica, muito obrigado pelo carinho!
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