15 de janeiro de 2012

Déficit auditivo - Diferentes realidades: a Língua de sinais


Se você leu o post Quebra de paradigmas [2] – A diversidade dentre os diferentes sabe que existem surdos sinalizados oralizados ou não e deficientes auditivos que usam aparelho e/ou optaram pelo implante coclear e não concordam com o uso da língua de sinais. Sendo assim, a partir de hoje, me proponho a mostrar a você essas duas realidades diferentes, iniciando assim a série “Déficit auditivo - Diferentes realidades”, onde postarei informações sobre a língua de sinais, sobre o implante coclear, depoimentos e vídeos que exponham os diferentes pontos de vistas das pessoas com perda auditiva e dos surdos.

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Hoje vou falar sobre a LÍNGUA DE SINAIS, que por ser considerada uma língua, pela lingüística, possuindo toda a complexidade e estrutura gramatical, como as línguas orais, e sendo totalmente independente destas.

Antes de abordar a língua de sinais propriamente dita coloco para vocês as definições de língua e linguagem segundo DIZEU e CAPORALI (2005) – sem querer dar uma aula de lingüística, até mesmo porque não entendo desta área:
   
    Língua: “... sendo ao mesmo tempo, um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para possibilitar o exercício dessa faculdade nos indivíduos.”


   Linguagem: “... por sua vez é tida como tudo que envolve significação, que tem valor semiótico, não se restringindo apenas a uma forma de comunicação...”.

A partir destas duas definições é possível entender porque vários estudiosos defendem o aprendizado da língua de sinais pelas crianças surdas. Podemos concluir que somente a partir do momento em que é oferecida para a criança a oportunidade de obter uma língua – aprender a forma convencionada de comunicação em seu meio – é que a criança adquirirá sua linguagem, isto é, começará a compreender o mundo, a formular sua subjetividade. Pois poderá trocar informações com as demais pessoas. E pelo fato da criança com surdez ser capaz de aprendê-la espontaneamente, sem nenhum tipo de treinamento, a língua de sinal é considerada a língua natural dos surdos, possibilitando-o a compreender a realidade a sua volta, fazer julgamentos e definir sua personalidade. Especialistas no assunto afirmam que o aprendizado de uma segunda língua (a língua portuguesa, por exemplo) torna-se mais fácil se o surdo já dominar a língua de sinal.

Diferente da língua oral, a língua de sinais utiliza um canal espaço-visual, e não oral-auditivo. Isto é, os sinais são feitos através das mãos e a informação é percebida por meio da visão, e o significado de cada sinal depende da conformação da mão, da posição em que ela se encontra no espaço (o que é chamado de ponto de articulação), da orientação da mão (se voltada pra dentro ou pra fora) e do movimento que realiza. E complementando (modificando) isto tudo, é preciso atenção à expressão facial – que acredito ser um dos principais influenciadores na transmissão da mensagem desejada através desta linguagem. Qual é a lógica de você sinalizar que está triste, mas faz isso com um sorriso no rosto? Para o surdo não há nexo e a informação fica incompleta. E ao contrário do que muitos pensam a ela não é universal – cada país possui a sua própria língua, mesmo que ainda seus alfabetos sejam semelhantes. Veja o post Alfabeto em Língua de Sinais pelo mundo. E você pode se perguntar o porquê de não unificar? E eu lhe pergunto, por que não unificar as línguas orais? Porque é através da língua que expressamos nossa identidade. Por meio dela, conseguimos identificar a nacionalidade da pessoa, de que região ela pertence e até mesmo o seu nível de escolaridade e grupo social de que pertence. Sendo assim, existem, por exemplo, a língua de sinais brasileira (LIBRAS), a americana (ASL), a italiana (LIS), a britânica (BLS).




Nesta imagem, feita por Peter Stemler, retirada do artigo SIGN LANGUAGE in the Brain, dos autores Gregory Hickok, Ursula Bellugi and Edward S. Klima, ilustra o seguinte: uma mesma conformação, movimento e orientação de mão. Porém o ponto de articulação e diferente, e apenas isto já altera o significado do sinal: summer (verão), ugly (feio) e dry (seco). Estes sinais são da língua de sinais americana (ASL).


Recentemente, a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), desde o ano de 2002, com a promulgação da Lei nº 10.436 foi oficializada como a primeira língua dos surdos brasileiros. Para a comunidade surda esta foi uma grande conquista, mas esta opinião não é compartilhada por aqueles que não se vêem como parte de uma comunidade surda.

Acredito muito no conceito atual de inclusão, no qual a sociedade é quem deve se adaptar a realidade dasminorias, no caso os surdos. Uma vez que existe um grupo que se comunica através das mãos, esta inclusão será feita quando o resto da sociedade reconhecer a surdez como uma diferença e respeitar essa forma de comunicação e procurar aprendê-la.

Por fim, por experiência própria, afirmo que a língua de sinais é muito interessante e gostosa de ser aprendida. No entanto, ela é tão complexa quanto se eu estivesse aprendendo alemão. E como toda segunda língua que se nos propomos aprender, é preciso praticar.

REFERÊNCIAS:
1- DIZEU LCTB, CAPORALI AS. A LÍNGUA DE SINAIS CONSTITUINDO O SURDO COMO SUJEITO. Educ. Soc., Campinas, vol. 26, n. 91, p. 583-597, Maio/Ago. 2005
2- CHAVEIRO N, SILVA CM de O e, SILVA APM de O e, SILVA FP da, MATOS MS da S, BORGES PR. MITOS DA LÍNGUA DE SINAIS NA PERSPECTIVA DE DOCENTES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS. Revista Virtual de cultura surda e diversidade. Disponível em: http://www.editora-arara-azul.com.br 


O QUE ERA A LÍNGUA DE SINAIS PRA VOCÊ ANTES DE LER ESTE POST? VOCÊ ACREDITA QUE A DIFUSÃO DA LÍNGUA DE SINAIS É UMA DAS FORMAS DE FAZER A INCLUSÃO DOS SURDOS?

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4 comentários:

  1. Ótimo post, Renato. Nunca imaginei que entender a diferença entre lingua e linguagem fosse tão útil para compreendermos a essencia de um ser. Somente com a língua pode-se formar uma linguagem, uma subjetividade. Formar aquilo que vamos ser.

    Excelente texto

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    1. Cássio, também confesso que após aprender esses dois conceitos o que foi dito nas aulas do nosso curso e nos artigos que eu li começou a fazer mais sentido. Se a criança que nasce surda ou adquire a surdez antes de aprender a falar for privada da língua de sinais é como se ela fosse privada de conhecer o mundo, já que ela não será capaz de formar o seu lado subjetivo.

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  2. tenho orgulho de encontrar alguem como vc Renato Cesar, um estudante de medicina com imenso desempenho em entender seu par diferente, eu como surda e professora universitaria posso dizer que as coisas começaram a mudar, rsrsrs, isso nos faz acreditar em um novo amanha.

    grande abraço

    Angelica Monteiro

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