17 de janeiro de 2012

A Ciência e a Surdez [1] - Conhecendo nosso cérebro


Fonte: Google
Em um dos artigos que li dizia que a língua de sinais era representada nas mesmas regiões do cérebro do que a língua oral. Foi a primeira vez, desde comecei a estudar sobre a realidade da surdez, que vi a menção da ciência nos estudos da língua de sinal. A partir de então comecei a pesquisar trabalhos específicos de neurociências que detalhassem um pouco mais aquela informação. Então escreverei mais uma série – A ciência e a Surdez - com algumas informações sobre o que a ciência tem para falar a respeito da comunicação com sinais das mãos e também sobre o implante coclear.  

A primeira parte da série abordará assuntos ligados a língua de sinais:
  • A língua de sinais e seu lugar no cérebro: será que apesar de ser composta por sinais, a língua de sinais está representada no cérebro nas mesmas regiões da língua oral, sendo por tanto considerado uma língua?

  • A Aquisição da Língua: quais os fatores que influenciam na aquisição da língua? Qual a idade mais favorável ao aprendizado de uma forma de comunicação?
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Mas para compreender estes trabalhos, é preciso conhecer a organização básica do cérebro e as áreas cerebrais, principalmente daquelas relacionadas com a produção/compreensão da fala. Procurarei usar tanto termos técnicos, para quem conhece a área, quanto os não-técnicos para as pessoas leigas no assunto. No entanto, sempre com uma linguagem acessível.

O CÉREBRO

O nosso cérebro é formado pelo o que chamamos de hemisférios (meta de uma esfera), sendo constituído por dois – o direito e o esquerdo. E cada um desses hemisférios é dividido em regiões ou lobos: frontal, temporal, parietal e occipital. As células que formam o cérebro são os neurônios, que se conectam uns aos outros (formam sinapses) gerando uma espécie de  emaranhado de fios que se interligam. Estes neurônios não são todos iguais; assim, grupos semelhantes de neurônios possuem habilidades iguais, e com isso temos a divisão da área cerebral em campos menores que irão possuir funções específicas, mas que trabalham de forma integrada.

Fonte: Google
O hemisfério direito relaciona-se basicamente com questões espaços-visuais, enquanto o hemisfério esquerdo, com a fala. Sabe-se hoje que as áreas relacionadas com a fala localizam-se, predominantemente, nos lobos frontal e temporal do hemisfério esquerdo, nas áreas conhecidas como área de Broca e área de Wernick respectivamente (figura 2.) – atentando para o fato da área de Broca estar relacionada com áreas especificas do movimento (giro pré-central) e a de Wernick localizar-se perto das áreas dos sentidos da audição, visão e olfato; além da área de memória. São nestes locais que ocorrem o processamento de algumas habilidades necessárias para a produção e interpretação da fala[1]. A área de Broca relaciona-se com a produção da fala, à ordenação dos movimentos da mesma. Já a de Wernick é como se fosse a área receptora, sendo responsável pela semântica das palavras – é ela quem dá significado, ajudando assim na compreensão do que se ouve. Além disso, cientistas acreditam que nestes campos, assim como nos cérebros dos macacos, existem neurônios-espelhos, os quais são ativados quando aqueles estes executam uma ação ou vêem outro macaco realizar a mesma ação. Isto sugere que a aquisição da palavra esteja ligada a imitação. Mas quanto a isto, não se tem conclusões[3][4].

Fonte: Google
Um trabalho ainda mais aprofundado, do pesquisador SAKI KL, detalhou ainda mais os campos cerebrais relacionados à fala. Ele identificou-as segundo os principais elementos da linguagem: fonologia (área de Wernick), semântica das palavras (giro angular e giro supramarginal), compreensão de sentenças (giro frontal inferior esquerdo conectado com o sulco pré-central e cortex pré-motor lateral esquerdo, relacionado à movimento - envolvendo a área de Broca) e  processamento gramatical  ou sintaxe (uma quarta área). Veja esta representação na figura abaixo e atente-se para as setas; elas indicam a interligação que existe entre todos aqueles campos[2].

Language Acquisition and Brain Development. Kuniyoshi L. Sakai
Agora que já conhece como é a estrutura básica do nosso cérebro e as áreas relacionadas a comunicação, estamos preparados para compreender a representação cerebral da língua de sinais e o que acontece durante processo de aquisição da língua seja ela primária ou segunda língua.

Continuem acompanhando mais esta série...

FONTES:
1- LIMA SI de, CURY EMG. CÉREBRO, LÍNGUAGEM E AFASIAS.
2 - Language Acquisition and Brain Development. Kuniyoshi L. Sakai. DOI: 10.1126/science.1113530 Science 310,815(2005). Pesqusiado em: www.capes.com.br
3 – THE ORIGEN OF SPEECH. Evolution of Leanguage. Disponível em www.sciencemag.org. January 16, 2012
4- ROCHA FT. "LIBRAS" (LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS) UM ESTUDO ELETROENCEFALOGRAFICO DE SUA FUNCIONALIDADE CEREBRAL.

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6 comentários:

  1. Maridoooo adorei o post... Sou fanática por neuro.
    Uma coisa bacana de se pensar é sobre a plasticidade neuronal em um indivíduo que não uriliza a audição. Na área Wernick temos o controle dos sentidos da audição, visão e olfato. Quando você retira a audição, ocorrerá a plasticidade neuronal fazendo com que a visão (e olfato) fiquem ainda mais "aguçados".
    Acho que isso nos remete a pensar um pouco sobre o LIBRAS: lingua que utiliza totalmente o sentido da visão. Por isso cada movimento e posição das mãos vão fazer diferença na hora de se comunicar com o surdo.
    E outra: mais um motivo pro surdo ter uma facilidade maior para aprender o LIBRAS. Além da necessidade, ele tem essa "vantagem" (não encontrei outro termo, desculpa a colocação inadequada, mas acho que entendem) na área de Wernick.

    Ahhh desculpa se falei mt bobagem, mas sou apaixonada pelo tema huahauhauah

    Beijinhussss marido =*

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    1. Tati,

      Apesar de ter tido dificuldades no segundo período, também acho a neuro uma área fascinante! E quando descobri os artigos na internet, não pensei duas vezes na hora de bolar esta série. Até mesmo pra quem não é da área da saúde, acredito que ficará fácil compreender.

      Sem querer você adiantou os próximos capítulos da série... a neuropalsticidade e a localização da área de Wernick tem papel importante no caso da surdez... continue acompanhando a série e descobrirá!
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  2. Muito bom! C ctz vou acompanhar, ja assinei o feed!

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    1. Dezaum,

      Que bom! Fico feliz e fique a vontade para comentar sempre que tiver vontade!

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  3. Belo texto sobre neuroanatomia. Quem sabe o Machado será superado pelo Guimarães?

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