Dando continuidade a nossa série, hoje mostrarei o que acontece com o nosso cérebro durante a aquisição da língua, comparando a língua de sinais com a língua oral.
Para quem perdeu o início, já abordamos dois tópicos:
- Conhecendo o nosso cérebro
- A língua de Sinais e as áreas do cérebro.
- Conhecendo o nosso cérebro
- A língua de Sinais e as áreas do cérebro.
Segundo SAKAI KL, as crianças aprendem a sua língua
natural nos primeiros anos de vida sem que seja preciso ensinar as regras
gramáticas, pois é como se estas fossem inatas ao cérebro. E este processo ocorre de forma mais acentuada
até os 3 primeiros anos de vida, o que está relacionado com o desenvolvimento
do cérebro, o qual ocorre de forma exponencial e forma mais acentuada neste
mesmo período, como ilustrado pelo gráfico abaixo.
Fonte: Artigo - Language Acquisition and Brain Development. SAKAI AL. |
A organização estrutural das redes neurais
referentes a cada processamento cognitivo, apesar de estar predeterminada pela
genética, também depende dos estímulos externos recebidos, principalmente,
durante a infância [4]. O trabalho de SAKAI também abordou sobre o aprendizado
de uma segunda língua. Ele mostrou que a segunda língua (L2), quando apreendida
após os 7 anos de vida, é representada em áreas distintas do cérebro daquela em
que está a língua materna (L1) aprendida até os 6 anos de vida[2]. O mesmo
acontece com a língua de sinais quando comparamos uma criança que aprendeu a se
comunicar por essa na infância e um adulto que adquiriu esta comunicação mais
tardiamente[4]. No entanto, ambas ativam a mesma área para o processamento
gramatical, o giro frontal inferior, a qual sofre modificações ao
longo da aquisição da L2 (acesse aqui para relembrar onde se localiza esta área). E acredita-se que a plasticidade do cérebro, isto é,
a capacidade dele se modificar e adaptar a novas condições são guiados pela L1[2].
Além disso, nos falantes, que tiveram um aprendizado tardio da Libras, nota-se
uma maior ativação de áreas frontais, mediais e temporais. A Libras, por se
tratar de uma segunda língua, parece exigir dos falantes uma tradução dos
sinais para a língua portuguesa, associando dessa forma áreas frontais
bilaterais de memória verbal e visual com áreas temporais de processamento
lingüístico. Essa diferença no padrão de ativação cerebral entre surdos e
falantes mostra a necessidade de se aprender uma língua de sinais na infância,
para que ela seja diretamente decodificada pelo seu próprio padrão neural [4].
Estes dados ajudam a fortalecer a visão de que a língua de sinais deve ser
aprendida pela criança surda o mais cedo possível, pois a aquisição da
linguagem (veja aqui) se tornará mais fácil, assim como o aprendizado do português.
Por fim, a surdez congênita induz modificações
na estruturação cerebral, pois elimina a competição sináptica entre informações
visuais e verbais em várias regiões do cérebro. Tal surdez acarreta uma
diminuição das terminações nervosas sonoras, e um conseqüente aumento das
terminações nervosas visuais (plasticidade). Essa recompensa faz com que indivíduos surdos
adquiram maior capacidade computacional do campo visual periférico com a
utilização de áreas temporais. Essas áreas normalmente estão relacionadas ao
processamento sonoro, mas nos surdos, por falta do estímulo físico, passam a
processar informações visuais refletidas nas margens periférica da retina[4]
(apound ROCHA).
Com este post encerramos a parte da série "A Ciência e a Surdez" destinada a língua de sinais. Fica o convite para uma reflexão sobre o aprendizado desta língua pelas crianças surdas e até mesmo pelos surdos mais velhos. A partir de agora, abordaremos o implante coclear, dando continuidade a série.
Continue acompanhando...
FONTES
1- LIMA SI de, CURY EMG. CÉREBRO, LÍNGUAGEM E AFASIAS.
2 - Language Acquisition and Brain Development.
Kuniyoshi L. Sakai. DOI: 10.1126/science.1113530 Science 310,815(2005).
Pesqusiado em: www.capes.com.br
3 – THE ORIGEN OF SPEECH. Evolution of Leanguage. Disponível em www.sciencemag.org. January 16, 2012
4- ROCHA FT. "LIBRAS"
(LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS) UM ESTUDO ELETROENCEFALOGRAFICO DE SUA
FUNCIONALIDADE CEREBRAL.
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Ahhh nisso a gente ve a grande necessidade do teste da orelinha ser realizado o quanto antes nos bebezinhos, não é msm?
ResponderExcluirMuitoooo boa a série =D
Com certeza, Tate. E o Teste da Orelhinha é gratuito e garantido por lei. Toda mãe deve exigir que ele seja realizado. Quanto mais cedo detectado a perda auditiva, mais rápido poderão ser iniciadas intervenções que visem o melhor desempenho da criança.
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