21 de janeiro de 2012

A Ciência e a Surdez [3] - A Aquisição da Língua


Dando continuidade a nossa série, hoje mostrarei o que acontece com o nosso cérebro durante a aquisição da língua, comparando a língua de sinais com a língua oral. 

Para quem perdeu o início, já abordamos dois tópicos:   

    - Conhecendo o nosso cérebro
    -  A língua de Sinais e as áreas do cérebro.

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A AQUISIÇÃO DA LÍNGUA


Segundo SAKAI KL, as crianças aprendem a sua língua natural nos primeiros anos de vida sem que seja preciso ensinar as regras gramáticas, pois é como se estas fossem inatas ao cérebro.  E este processo ocorre de forma mais acentuada até os 3 primeiros anos de vida, o que está relacionado com o desenvolvimento do cérebro, o qual ocorre de forma exponencial e forma mais acentuada neste mesmo período, como ilustrado pelo gráfico abaixo. 


Fonte: Artigo - Language Acquisition and Brain Development. SAKAI AL.
A organização estrutural das redes neurais referentes a cada processamento cognitivo, apesar de estar predeterminada pela genética, também depende dos estímulos externos recebidos, principalmente, durante a infância [4]. O trabalho de SAKAI também abordou sobre o aprendizado de uma segunda língua. Ele mostrou que a segunda língua (L2), quando apreendida após os 7 anos de vida, é representada em áreas distintas do cérebro daquela em que está a língua materna (L1) aprendida até os 6 anos de vida[2]. O mesmo acontece com a língua de sinais quando comparamos uma criança que aprendeu a se comunicar por essa na infância e um adulto que adquiriu esta comunicação mais tardiamente[4]. No entanto, ambas ativam a mesma área para o processamento gramatical, o giro frontal inferior, a qual sofre modificações ao longo da aquisição da L2 (acesse aqui para relembrar onde se localiza esta área). E acredita-se que a plasticidade do cérebro, isto é, a capacidade dele se modificar e adaptar a novas condições são guiados pela L1[2]. Além disso, nos falantes, que tiveram um aprendizado tardio da Libras, nota-se uma maior ativação de áreas frontais, mediais e temporais. A Libras, por se tratar de uma segunda língua, parece exigir dos falantes uma tradução dos sinais para a língua portuguesa, associando dessa forma áreas frontais bilaterais de memória verbal e visual com áreas temporais de processamento lingüístico. Essa diferença no padrão de ativação cerebral entre surdos e falantes mostra a necessidade de se aprender uma língua de sinais na infância, para que ela seja diretamente decodificada pelo seu próprio padrão neural [4]. 

Estes dados ajudam a fortalecer a visão de que a língua de sinais deve ser aprendida pela criança surda o mais cedo possível, pois a aquisição da linguagem (veja aqui) se tornará mais fácil, assim como o aprendizado do português.

Por fim, a surdez congênita induz modificações na estruturação cerebral, pois elimina a competição sináptica entre informações visuais e verbais em várias regiões do cérebro. Tal surdez acarreta uma diminuição das terminações nervosas sonoras, e um conseqüente aumento das terminações nervosas visuais (plasticidade). Essa recompensa faz com que indivíduos surdos adquiram maior capacidade computacional do campo visual periférico com a utilização de áreas temporais. Essas áreas normalmente estão relacionadas ao processamento sonoro, mas nos surdos, por falta do estímulo físico, passam a processar informações visuais refletidas nas margens periférica da retina[4] (apound ROCHA).


Com este post encerramos a parte da série "A Ciência e a Surdez" destinada a língua de sinais. Fica o convite para uma reflexão sobre o aprendizado desta língua pelas crianças surdas e até mesmo pelos surdos mais velhos. A partir de agora, abordaremos o implante coclear, dando continuidade a série.

Continue acompanhando...

FONTES
1- LIMA SI de, CURY EMG. CÉREBRO, LÍNGUAGEM E AFASIAS.
2 - Language Acquisition and Brain Development. Kuniyoshi L. Sakai. DOI: 10.1126/science.1113530 Science 310,815(2005). Pesqusiado em: www.capes.com.br
3 – THE ORIGEN OF SPEECH. Evolution of Leanguage. Disponível em www.sciencemag.org. January 16, 2012
4- ROCHA FT. "LIBRAS" (LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS) UM ESTUDO ELETROENCEFALOGRAFICO DE SUA FUNCIONALIDADE CEREBRAL.


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2 comentários:

  1. Ahhh nisso a gente ve a grande necessidade do teste da orelinha ser realizado o quanto antes nos bebezinhos, não é msm?

    Muitoooo boa a série =D

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    Respostas
    1. Com certeza, Tate. E o Teste da Orelhinha é gratuito e garantido por lei. Toda mãe deve exigir que ele seja realizado. Quanto mais cedo detectado a perda auditiva, mais rápido poderão ser iniciadas intervenções que visem o melhor desempenho da criança.

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