Já
foi abordado neste blog (veja aqui) que existe vários tipo de pessoas com déficit auditivo
e quais são os fatores que influenciam nesta identificação. Basicamente, o que diferencia uma pessoa
da outra é a forma como ela escolhe para se comunica com o resto do mundo - há várias formas de comunicação. Logo, para se
obter uma comunicação eficiente, é preciso adotar estratégias de abordagem de
acordo com cada indivíduo. E este é um dos tópicos tratado no artigo “Comunication with Deaf and Hard-of-hearing
People: A Guide for Medical Education, escrito por Steven Barnett, MD. Mas
neste caso, focado no atendimento clínico do paciente pelo médico.
Por
eu ser um estudante de medicina, e vários dos leitores deste blog também serem
acadêmicos desta área, achei que seria de extrema utilidade compartilhar as
dicas que constam neste trabalho. E mesmo para quem não é estudante de
medicina, este conhecimento é importante para que possa instruir seu médico.
Neste
artigo eles dividem as pessoas com perda auditiva em três grupos: pessoas com perda
auditiva, mas que ainda tem a capacidade de ouvir; pessoas surdas oralizadas e
pessoas surdas sinalizadas. E as estratégias propostas direcionam-se a cada um
destes grupos.
Pacientes
com alguma perda auditiva:
Saudação
- Perguntar ao paciente qual a melhor forma de se comunicar com ele ou ela.
- Minimizar os ruídos de fundo.
- O rosto do médico deve estar bem iluminado.
Comunicação expressiva
- Contato visual é estabelecido antes de falar.
- Permitir que o paciente veja sua boca (não bloquear a visão por mãos, canetas, quadros, etc.)
- Ajustar o tom de voz se isso ajudar.
- Sempre que for mudar de assunto deve deixar isto claro para o paciente.
- Repetir a informação que não é compreendida. Reformular, se ainda não for compreendido.
- Use dispositivos auxiliares de audição (por exemplo, aparelhos auditivos, one-to-one comunicadores) se eles ajudarem.
- Escrever nota pode ser útil.
- Pergunte para o paciente periodicamente sobre a qualidade da comunicação.
- Pedir ao paciente para que faça resumos periódicos do que está sendo dito para verificar a precisão da comunicação.
- Resumir a história do paciente para verificar a precisão.
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Pacientes surdos-oralizados
Saudação
- Perguntar ao paciente a melhor forma de se comunicar com ele ou ela.
Ambiente
- O rosto do médico deve estar bem iluminado
Comunicação expressiva
- Contato visual é estabelecido antes de falar.
- Permitir que o paciente veja sua boca (não bloquear a visão por mãos, canetas, quadros, etc.)
- Sempre que for mudar de assunto deve explicitar para o paciente.
- Repetir a informação que não é compreendida. Reformular se ainda não é compreendido.
- Escrever nota pode ser útil.
- Pergunte para o paciente periodicamente sobre a qualidade da comunicação.
- Pedir ao paciente para que faça resumos periódicos para verificar a precisão da comunicação.
- Quando estiver incerto, pedir ao paciente para repetir ou esclarecer.
- Repita a declaração do paciente para confirmar se compreendeu o que ele disse.
- Se ainda não está claro, a escrita pode ajudar.
- Resumir a história do paciente para verificar a precisão.
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Pacientes
surdos-sinalizados (para médicos não-fluentes em língua de sinais)
Saudação
- Dar boas vindas (Bem-vindo) ao paciente com uma saudação de linguagem de sinais (ou pedir ao paciente para ensinar-lhe um).
- Perguntar ao paciente a melhor forma de se comunicar com ele ou ela.
- A sala deve estar bem iluminada, e a luz não pode estar brilhando nos olhos do paciente.
- As pessoas devem ficar posicionadas de modo que o paciente surdo possa ver o médico e o intérprete.
- Trabalhar com um intérprete qualificado.
- Fale com o paciente, e não o intérprete.
- Mudanças de tópico devem ser explicitamente mencionadas.
- Escrever nota e materiais escritos pode ter utilidade limitada.
- Pergunte para o paciente periodicamente sobre a qualidade da comunicação.
- Pedir ao paciente para fazer resumos periódicos para verificar a precisão da comunicação.
- Olhe para o paciente enquanto escuta o intérprete.
- Quando incerto, pedir ao paciente (não o intérprete) para fazer esclarecimentos.
- Resumir a história do paciente para verificar a precisão.
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Percebam que várias destas dicas podem ser usadas nos encontros do dia-a-dia. E gostaria de ressaltar alguns tópicos que na maioria das vezes nós ouvintes, e principalmente os médicos, nunca paramos para pensar: sempre conversar olhando nos olhos do paciente - isso deve ser feito na verdade com qualquer tipo de paciente; demonstra respeito; deixar a visão da boca livre para que o paciente que sabe fazer leitura labial possa compreender o que você está dizendo; sempre fazer feedback e pedir ao paciente que o faça para evitar mal-entendidos; e por fim, chamo a atenção para uma das principais reclamações de surdos que possuem intérpretes como mediadores - quem está se consultando é o surdo, logo faça a consulta olhando o tempo todo para o surdo e não para o intérprete. E sobre a questão de usar anotações, chamo a atenção para o fato de não ser o ideal e ser pouco efetivo (apesar do autor do artigo ter indicado) - são poucos os surdos bilíngues, isto é, que conhecem o português; e quando o sabem, o seu vocabulário é restrito.
Depois desta publicação meus colegas de área e futuros de profissão não têm mais desculpas para não otimizar as consultas de seus pacientes surdos. E estes agora podem ensinar ao seu médico.
VOCÊ ACHA QUE ESTAS MEDIDAS REALMENTE FACILITAM O ATENDIMENTO CLÍNICO DO PACIENTE COM PERDA AUDITIVA E SURDO?
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