26 de maio de 2012

"Surdo sofre" - sentindo na pele


Grupo do Mod2 do Curso LIBRAS E SAÚDE
Semana passada começaram as aulas do módulo 2 do curso LIBRAS E SAÚDE da UFJF, que dá continuidade ao módulo 1 do semestre passado. A proposta agora é focar integralmente no atendimento clínico do paciente surdo, associado a um projeto de extensão que também desenvolveremos.

Hoje, devido a greve dos professores da nossa universidade, decidimos fazer o encontro semanal em um rodízio de pizza. Qual a proposta? Somente nos comunicarmos por meio da língua de sinais, durante todo o tempo em que permanecermos lá; tanto entre nós quanto com os garçons. A proposta é de aprendermos por meio da criação de situações e sentirmos na pele o que acontece de verdade com os surdos.

Chegamos ao local, éramos em 12 pessoas, teoricamente eu era o único ouvinte, porque fui eu quem reservou as mesas. Havia um garçom e uma garçonete nos atendendo. Ambos não sabiam LIBRAS e pelo visto, nunca tinham passado por uma situação semelhante. Em um primeiro momento eles ignoravam a nossa mesa, servindo todas as outras, menos a gente. O garçom mostrou-se atencioso, procurando encontrar formas de nos atender: mostrava as opções na comanda, pedia pra escrever no papel, não foi grosso em nenhum momento. A partir de certo momento ele parou de conversar com a gente por meio das palavras. Já a mulher, não soube como se portar diante do fato. Ela gritava com a gente oferecendo pizza, e como todos “eram surdos” ninguém ouvia ela falando. Qual a conclusão dela? Como ninguém respondeu, ninguém quer comer. E simplesmente ia pra outra mesa. Isso quando pedaços de pizza brotavam nos pratos sem ninguém pedir. O desespero dela era muito engraçado, pois ela sempre exclamava: “Não to entendendo nada!”, de uma maneira cômica. Isso durou cerca de 3 horas, sem falar uma palavra em português.

Quais as conclusões que tirei sobre essa experiência? Como já disse em um post anterior, a sociedade é quem deve se adaptar a realidade das minorias, assim é que faremos inclusão social. E infelizmente contatei que a população ouvinte, a grande maioria dela, não está preparada para conviver de forma acessível com a comunidade surda, e existe sim o preconceito. É justo privarmos os surdos de poderem sair numa sexta-feira a noite com um grupo de amigos para um rodízio de pizza? Felizmente alguns parecem tentar minimizar essa situação (o garçom), mas outros a ignoram (garçonete). E o pior é você ignorar a pessoa simplesmente porque VOCÊ não tem a capacidade de compreendê-la. Foi uma manifestação clara de preconceito. Por que em TODAS as outras mesas as pizzas de fato rodavam e na nossa mal levavam a batata-frita?

Esta foi uma experiência marcante, pois realmente percebi que “surdo sofre”. No entanto, extremamente rica: pois com certeza o nosso aprendizado foi muito maior do que em uma sala de aula. Realmente, o ensino da LIBRAS por meio de situações é muito mais efetivo. O fato de sermos obrigados a encontrar formas de se fazer entender e entender o outro, nos faz prestarmos mais atenção. Além de ter sido uma noite extremamente divertida e engraçada!

Novos encontros acontecerão!


Aprenda mais sobre a LIBRAS e também como ela é processada no nosso cérebro.


6 comentários:

  1. Não vejo a hora de começar o curso de LIBRAS do comitê IFMSA - ACRE!!!!
    Muito inteligente, inovadora e proveitosa essa experiência!! Parabéns pessoal!!

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  2. Falou tudo!! ^^ Foi realmente ótimo... a pena é ver que algumas pessoas não compreendem mas também não se esforçam para oferecer um bom serviço... não é preciso ser um expert em LIBRAS para isso, basta ter um pouco de paciência e boa vontade... Porque surdo tem que ser muito bem atendido... assim como aconteceria com ouvintes! Beijinhos, Isa...

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  3. Adorei o blog Renato!!! E a aula na pizzaria também kkkkkkkkkkkkkkkkkk. A partir dessa experiência, poderíamos escrever páginas e mais páginas, muitas reflexões com certeza. Camila Ferreira.

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    1. Vamos marcar mais experiências como essa! Com certeza, teríamos muito material pra debater.

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  4. Por acaso hoje vi esse blog, passando pelas paginas, esse artigo me chamou a atenção, resolvi lê, achei muito interessante a inciativa da pizzaria, por ser uma situação do nosso cotidiano, há muitos anos tive experiencia com libras, um inicio de estudo, mas não via o pq de estudar libras, com o passar dos tempos passei ter mais contato com pessoas surda, fiquei meio sem jeito por não saber me comunicar. O que eu não via necessidade hoje faz falta. Depois q esse blog me despertou uma curiosidade muito grande em retomar o q parei, to pesquisando na internet aulas de libras e achei bastante coisa interessante! Quero dar meus sinceros parabéns ao autor desse blog! Sua iniciativa despertou em mim um interesse muito grande!

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    1. Não sabe o quanto me deixou feliz com esse depoimento! Já consegui meu objetivo: mostrar a importância e estimular o aprendizado da Libras.

      Essa experiência na pizzaria foi marcante. Conseguimos perceber como os surdos são tratados no cotidiano.

      Por favor, identifique-se depois!!!

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