31 de janeiro de 2012

Ciência e Surdez [6] - O Desempenho do IC


Fonte: Google.
Como já foi abordado em outro momento neste blog, para ocorrer uma compreensão de mundo e se si mesmo de modo eficiente é preciso que o indivíduo adquira uma língua, pois é com ela que será possível se comunicar e assim adquirir sua linguagem. E o objetivo do implante coclear é permitir que a pessoa com deficiência auditiva possa envolver-se no mundo do som e assim adquirir a língua oral e comunicar com os demais ouvintes. Hoje, iremos analisar o que as pesquisas dizem sobre o desempenho do IC neste aspecto e possíveis distúrbios que podem causar.

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Segundo a literatura, de modo geral, os maiores benefícios do IC ocorrem em pessoas que adquiriram a fala e a linguagem antes da perda auditiva e/ou que possuem um tempo de privação sensorial ou tempo de surdez curto. Além disso, quanto maior o tempo de uso do IC, melhor as habilidades lingüísticas[1]. Queiroz et al (2010), conseguiu mostrar através de sua pesquisa resultados em comum com a literatura sobre a efetividade do IC não apenas para perceber, detectar e reconhecer a fala, mas também para uma habilidade auditiva mais complexa e refinada, ou seja, a capacidade de compreender verbalmente a linguagem – em sua experiência foram dadas ordens aos participantes e estes, ao longo do tempo, conseguiam cumpri-la sem precisar repetir a pergunta. Vários trabalhos demonstram a efetividade do IC quanto ao reconhecimento de palavras e sentenças[1], [2], [3],[4]. No entanto, a maior parte deste trabalhos analisaram as conseqüências do IC a curto prazo (até 6 ou 7 anos de implantação), sendo escasso publicações que analisaram o que ocorreu em pacientes com mais de 7 anos de uso do dispositivo. Tanamati et al (2011) fizeram uma revisão bibliográfica a respeito deste assunto – os resultados do IC a longo prazo:

  • Quanto às habilidades auditivas (reconhecimento de palavras monossílabas e sentenças) pode-se relatar que com o IC os indivíduos alcançaram níveis complexos, sendo que a maioria conseguiu reconhecer a fala sem fazer a leitura labial. No entanto, praticamente todos os trabalhos fizeram esta análise sem a presença de ruído. O trabalho desenvolvido por Nascimento ET AL (2008) mostrou que na presença de ruídos, este desempenho diminui, ou seja, nas condições do dia-a-dia, os adultos usuários do IC possuem dificuldade para compreender o que é dito a eles, principalmente aquelas pessoas com maior tempo de surdez e com menor tempo de uso do IC.
  • Em relação aos testes de inteligibilidade da fala, isto é, quanto a mensagem transmitida pela criança que cresceu usando o aparelho pode ser compreendida por ouvintes sem experiência com a fala de portadores de deficiência auditiva, os participantes também atingiram níveis elevados, mas houve grande variação entre os níveis individuais.
  • E quanto à avaliação da situação acadêmica e ocupacional proporcionada pelo IC, relata-se que com o uso do mesmo há um aumento na inserção nas escolas regulares com o passar do tempo do uso e com níveis educacionais satisfatórios. No entanto, há atrasos no desenvolvimento quanto a faixa etária normal e observou-se reprovações.

Como relatado em vários estudos, apesar de se obter bons resultados, existem variações. E os autores referem essa heterogeneidade a alguns fatores
  • diferença no resíduo de células ganglionares ou elementos neurais existentes
  • inserção cirúrgica do dispositivo na escala timpânica
  • sobrevivência das estruturas neurais centrais
  • o modo como o sistema é programado para cada usuário
  • a variação no número de eletrodos ativados na cóclea[6]
  • compreensão da fala antes da fazer o IC
  • a idade em que o implante foi feito – usuários que tiveram maior privação sensorial obtiveram os piores resultados.


Com estes estudos fica claro para mim que os médicos especialistas das áreas de pediatria e otorrinolaringologia precisam se aprofundar nos conhecimentos acerca da surdez para que possam fazer uma avaliação adequada das reais condições do seu paciente antes de indicar o IC. Pois nem todas as pessoas apresentam resultados satisfatórios; logo sua indicação deve ser com cautela, para não gerar falsas esperanças e o paciente não se frustre.

Agora você tem a possibilidade de debater tanto sobre o uso da língua de sinais e do IC. E aconselho que leia as referências indicadas para aprofundar o seu conhecimento.

Por enquanto encerro esta série, no entanto, minhas pesquisas de artigos científicos sobre a as questões da surdez não se encerram por aqui. 

REFERÊNCIAS:
1- Queiroz CAUF, Bevilacqua MC, Costa MPR. ESTUDO LONGITUDINAL DA COMPREENSÃO VERBAL DE CRIANÇAS USUÁRIAS DE IMPLANTE COCLEAR. Rev. CEFAC. 2010 Mar-Abr; 12(2):210-215. 
2- Bento RF et al. Resultados auditivos com o implante coclear multicanal em pacientes submetidos a cirurgia no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Rev Bras Otorrinolaringol.V.70, n.5, 632-7, set./out. 2004. 
 3- Tanamati LF, Costa AO, Bevilacqua MC. RESULTADOS A LONGO PRAZO COM O USO DE IC EM CRIANÇAS: Revisão sistêmica. Arq. Int. Otorrinolaringol. 2011;15(3):365-375.
4- Silva RCL, Araújo SG. Os resultados do implante coclear em crianças portadoras de Neuropatia Auditiva: revisão de literatura. Rev Soc Bras Fonoaudiol. 2007;12(3):252-7. 
5- Nascimento LT, Bevilacqua MC. Avaliação da percepção da fala com ruído competitivo em adultos com implante coclear. Rev Bras Otorrinolaringol.V.71, n.4, 432-8, jul./ago. 2005

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